24 jun Bitcoin: o instrumento especulativo ideal
Um número cada vez maior de investidores ao redor do mundo está apostando no Bitcoin sem entender exatamente o que é, como funciona e para que serve. A tese de investimento geralmente é baseada em ideias vagas e futuristas: “o Bitcoin vai revolucionar o sistema financeiro mundial”, “o Bitcoin é uma nova classe de ativos”, “o Bitcoin vai substituir o dólar”, “o Bitcoin é o ouro digital”. Se as previsões revolucionárias se confirmarem, seu valor é infinito. Caso contrário, vale zero.
A cada dia aumenta o número de entusiastas e convertidos, motivados pelo desejo de ganhar dinheiro fácil e embalados por uma boa dose de ingenuidade. Se a história serve como guia, não é difícil prever quem vai pagar a conta. O Bitcoin conquistou a imaginação popular, entrou na moda e transformou-se em um negócio de proporções globais. Para o investidor inexperiente é cada vez mais difícil resistir a esse apelo.
Nem todos se dão conta de que o mercado global de Bitcoins é extremamente pequeno, equivalente a menos da metade do valor de mercado da Apple ou da Microsoft. Como a oferta é rigorosamente limitada pelas regras criadas pelo seu criador, o japonês Satoshi Nakamoto, pequenas oscilações na demanda provocam variações extremas no preço. A entrada de novos investidores no mercado impulsiona o preço, a volatilidade atrai novos participantes e o ciclo se retroalimenta.“A cada dia aumenta o número de entusiastas e convertidos, motivados pelo desejo de ganhar dinheiro fácil e embalados por uma boa dose de ingenuidade.”
Criptomoedas não são moedas
O erro mais comum com relação ao Bitcoin é considerá-lo moeda. Porém, ele não desempenha nenhuma das funções clássicas de uma: servir como meio de pagamento, reserva de valor e unidade de conta. Quem já foi ao supermercado, pegou um táxi ou pagou o aluguel com Bitcoin? Mesmo que todos os estabelecimentos comerciais e empresas passassem a aceitá-lo, ele não poderia ser usado porque o processamento de transações é lento demais: tem capacidade para apenas cerca de 4,6 transações por segundo. Como comparação, a Visa pode processar 24 mil transações por segundo.
Além do problema de escalabilidade, o Bitcoin é volátil demais para servir como reserva de valor. Recentemente, seu preço desabou devido a declarações negativas de Elon Musk, da Tesla, e de medidas do governo chinês para restringir a especulação em criptomoedas. Foi o 16º crash de 30% ou mais nos últimos nove anos. Com média de um crash a cada sete meses, ele serve para especular, não para preservar valor.
O Bitcoin também é reprovado como unidade de conta. Por definição, ela precisa permanecer constante, mas a magnitude das oscilações do seu preço inviabiliza o uso na prática. Não seria viável para uma empresa fazer um orçamento e nem para um consumidor comparar preços em Bitcoin.
Ouro Digital
Mesmo sem ser moeda, dizem os otimistas, o Bitcoin um dia poderá substituir o ouro. Outra aposta no desconhecido. O ouro tem uma longuíssima história como meio de pagamento em diversas sociedades. Já foi base de todo o sistema monetário internacional e vem funcionando como reserva de valor há milênios. Sem credibilidade junto a imensa maioria dos investidores, o Bitcoin precisa passar pelo teste do tempo.
Outra desvantagem do Bitcoin é a sua complexidade. Investir em ouro é simples e intuitivo: todos sabem que é um metal raro e precioso, pode ser transportado com relativa facilidade e, ao longo da história, foi amplamente usado como moeda e reserva de valor. O Bitcoin, ao contrário, não tem nada de simples nem intuitivo e pouquíssimas pessoas entendem a tecnologia blockchain com a qual ele foi construído.